Martírio

Tudo o que lembro foi de ter sido acertado na testa por algum objeto pesado. Pouco tempo depois, acordei e me vi com uma mordaça na boca. A minha cabeça latejava de tanta dor. Olhei ao redor e não consegui enxergar nada com nitidez. Fui comido pela escuridão.

As cordas amarradas nos meus pulsos machucavam. A vontade de me ver livre era maior que tudo, porém não consegui fazer com que surgisse um pingo de esperança. Deixei que o medo e o pessimismo sentassem ao meu lado e rissem da minha situação. Eu era só mais uma atração pros dois.

Sendo chutado, pisado e cuspido; clamei pela morte inúmeras vezes. Nenhuma delas foi atendida. E, como se isso não bastasse, em seguida, o frio abraçou o meu corpo com força, provocando um desconforto terrível. Pobre de mim. 

Senti os olhos pesarem. Adormeci.

Tendo passado horas assim, já não reclamava mais. Aprendi a lidar com a dor e a depender dela pra sobreviver naquele quarto escuro. Podem dizer que fiquei louco, mas, se ainda existia dor, era sinal de que ainda estava vivo. À essas alturas, como não sabia mais distinguir a vida da morte, sentir minhas feridas arderem era o único jeito de ter certeza de que a morte não havia me visitado ainda. Não posso dizer que ficava contente por estar nessas condições, mas não sei como ficaria caso morresse de vez. Todo o frio e a dor iriam embora, mas o que sobraria? Um vazio? Existiria mesmo um paraíso depois deste inferno? 

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